sábado, 3 de abril de 2010
O CÃO E O HOMEM
O lobo na origem do cão?
Os mais antigos esqueletos de cães
descobertos datam aproximadamente de 30
000 anos após o aparecimento do Homem
de Cro-Magnon (Homo sapiens sapiens). A
sua exumação foi sempre feita em
associação com restos de ossadas humanas,
razão que justifica a designação Canis
familiaris (-10 000 anos). Afigura-se lógico
pensar que o cão doméstico descenda de
um canídeo selvagem pré-existente. Entre
os potenciais antepassados figuram o lobo
(Canis lupus), o chacal (Canis aureus) e o
coiote (Canis latrans).
Aliás, foi na China que se descobriram os
vestígios mais antigos de cães, muito
embora nem o chacal nem o coiote tenham
sido identificados nessa região. Foi,
igualmente, na China que foi possível
autentificar as primeiras associações entre
o homem e uma variedade de lobo de
pequenas dimensões (Canis lupus variabilis)
com mais de 150 000 anos. A coexistência
destas duas espécies, num estádio precoce
de evolução, parece corroborar a teoria do
lobo como antepassado do cão.
Esta hipótese foi recentemente reforçada
por diversas descobertas, nomeadamente: o
aparecimento de determinadas raças de
cães nórdicos que descendem directamente
do lobo; o resultado da investigação
genética que procedeu à comparação do
ADN mitocondrial destas espécies, revelando
uma similaridade superior a 99,8% entre o
cão e o lobo, enquanto que ao nível do cão
e do coiote não ultrapassa os 96%; a
existência de mais de 45 subespécies de
lobos que poderiam estar na origem da
diversidade racial observada nos cães; a
semelhança e compreensão recíproca da
linguagem postural e vocal entre as duas
espécies.
Semelhanças entre o cão e o lobo: uma
análise difícil
As semelhanças entre cães e lobos
dificultam a tarefa dos paleozoólogos no
sentido de destrinçar, com rigor, os
vestígios de lobo e de cão sempre que estes
se apresentam incompletos, ou quando o
contexto arqueológico torna a coabitação
bastante improvável. Com efeito, o cão
primitivo só se diferencia do seu
antepassado em virtude de alguns detalhes
de reduzida fiabilidade, tais como o
comprimento do chanfro, o ângulo do
"stop" ou ainda a distância entre os dentes
carniceiros e os tubérculos superiores.
Para além disso, o número de canídeos
predadores foi certamente bastante inferior
ao das suas presas, facto que reduz ainda
mais as hipóteses de serem descobertos os
seus fósseis. Este conjunto de dificuldades,
às quais se acrescenta ainda uma eventual
hibridação cão-lobo, explica a razão de
ainda não ter sido possível decifrar
numerosos elos sobre as origens do cão,
nomeadamente as formas de transição
entre Canis lúpus variabilis e Canis familiaris
que um dia, possivelmente permitirão
encontrar uma resposta para a resolução
das diversas teorias.
Devemos observar, no entanto, que a teoria
"difusionista" que atribui às migrações
humanas a responsabilidade da adaptação
do cão primitivo, não exclui a teoria
"evolucionista" que sustenta que as
variedades de cães resultam dos diferentes
pólos de domesticação do lobo.
De acordo com pesquisas recentes,
americanas e suecas, o cão teria surgido na
Terra há, aproximadamente 135 000 anos,
ou seja, 100 000 anos antes da data
actualmente pressuposta. Com efeito, foram
encontradas em escavações arqueológicas
com mais de 100 000 anos restos de
canídeos com uma morfologia próxima à
do lobo misturados com ossadas humanas.
Áreas geográficas do
género canis e raposas
sul-americanas
Segundo Y.Lignereux e I.
Carrière : SFC 1994, La
Recherche 1996.
A batalha das teorias
Numerosas teorias com base em analogias
osteológicas e dentárias confrontaram-se
durante muito tempo no sentido de atribuir
apenas a uma destas espécies, o lobo, o
chacal ou o coiote, a qualidade de
antepassado do cão. Outros avançaram a
hipótese de que raças de cães tão
diferentes como o Chow-Chow ou o Galgo
poderiam descender de espécies diferentes
do mesmo género Canis.
Fiennes, em 1968, atribuía às 4 subespécies
distintas de lobos (lobo europeu, lobo
chinês, lobo indiano e lobo norte-
americano) a origem dos 4 grandes grupos
de raças caninas actuais.
Outros, enfim, avançaram a hipótese de
eventuais cruzamentos entre essas espécies
estarem na origem da espécie canina,
apresentando como argumentos a
fecundidade dos acasalamentos lobo-coiote,
lobo-chacal ou ainda chacal-coiote de que
poderiam resultar híbridos férteis, todos
com 39 pares de cromossomas. Esta última
teoria da hibridação afigura-se, agora,
invalidada em virtude do conhecimento
sobre as barreiras ecológicas que
separavam estas espécies à data de
aparecimento do cão e que tornavam
especialmente impossíveis os encontros
entre coiotes e chacais.
Os lobos, pelo seu lado, eram
omnipresentes, mas as diferenças em
termos de comportamento e de dimensões
relativamente às outras duas espécies
tornavam os cruzamentos inter-específicos
muitíssimo improváveis, facto que refuta,
entre outras, a hipótese que atribuía a
"paternidade" do cão a uma hibridação
entre o chacal (Canis aureus) e o lobo
cinzento (Canis lupus).
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