sexta-feira, 2 de abril de 2010
PAVLOV
No final do
século XIX e no
início do século
XX, um
fisiologista
russo chamado
Ivan Pavlov
(1849-1936),
ao estudar a
fisiologia do
sistema gastrointestinal, fez uma das
grandes descobertas científicas da
atualidade: o reflexo condicionado.
Foi uma das primeiras abordagens
realmente objetivas e científicas ao
estudo da aprendizagem,
principalmente porque forneceu um
modelo que podia ser verificado e
explorado de inúmeras maneiras,
usando a metodologia da fisiologia.
Pavlov inaugurava, assim, a psicologia
científica, acoplando-a à
neurofisiologia. Por seus trabalhos,
recebeu o prêmio Nobel concedido na
área de Medicina e Fisiologia em
1904.
Ilustração: Renato M. E. Sabbatini
A experiência clássica de Pavlov é aquela
do cão, a campainha e a salivação à vista
de um pedaço de carne. Sempre que
apresentamos ao cão um pedaço de carne,
a visão da carne e sua olfação provocam
salivação no animal. Se tocarmos uma
campainha, qual o efeito sobre o animal?
uma reação de orientação. Ele
simplesmente olha, vira a cabeça para ver
de onde vem aquele estímulo sonoro. Se
tocarmos a campainha e em seguida
mostrarmos a carne, dando-a ao cão, e
fizermos isso repetidamente, depois de
certo número de vezes o simples tocar da
campainha provoca salivação no animal,
preparando o seu aparelho digestivo para
receber a carne. A campainha torna-se um
sinal da carne que virá depois. Todo o
organismo do animal reage como se a
carne já estivesse presente, com salivação,
secreção digestiva, motricidade digestiva
etc. Um estímulo que nada tem a ver com
a alimentação, meramente sonoro, passa a
ser capaz de provocar modificações
digestivas.
Para que surja um reflexo
condicionado é preciso que existam
certas condições:
1. coexistência no tempo, várias vezes
repetida, entre o agente indiferente e
o estímulo incondicionado (no caso, o
som da campainha e a apresentação
da carne);
2. o agente indiferente deve preceder
em pouco tempo o estímulo
incondicionado. Se dermos a carne
primeiro e tocarmos a campainha
depois, a reação condicionada não se
estabelece;
3. inexistência naquele momento de
outros estímulos que possam
provocar inibição de causa externa.
Se simultaneamente damos uma
chicotada no animal ou lhe jogamos
água gelada, provocamos inibição,
desencadeando reação de defesa no
animal;
4. para que o reflexo condicionado se
mantenha, é necessário que
periodicamente o reforcemos. Uma
vez que o reflexo se formou, o mero
som da campainha substitui a
apresentação da carne. Mas, se
tocarmos repetidamente a
campainha e não mais
apresentarmos a carne, depois de um
certo número de vezes o animal deixa
de reagir com salivação e secreção
digestiva.
Como Funciona o Reflexo
Condicionado
Estímulo -------> Resposta
Estímulo Indiferente + Estímulo
Incondicionado (apresentação da carne)
---------> Resposta Incondicionada
Estímulo Indiferente --------> Resposta
Condicionada
.
Explicando melhor: um estímulo
indiferente, combinado com um
estímulo capaz de ativar um reflexo
incondicionado, gera uma resposta
incondicionada e, depois de algum
tempo, o estímulo indiferente, por si
só, é capaz de provocar resposta que
pode, então, ser considerada como
condicionada. Esses estímulos
indiferentes podem vir tanto do meio
externo (estímulos sonoros,
luminosos, olfativos, táteis, térmicos)
como do meio interno (vísceras,
ossos, articulações).
As respostas condicionadas podem
ser motoras, secretoras ou
neurovegetativas. Podem pois, ser
condicionadas reações voluntárias ou
reações vegetativas involuntárias.
Podemos fazer com que respostas
involuntárias apareçam de acordo
com a nossa vontade, se usarmos o
condicionamento adequado. As
respostas condicionadas podem ser
excitadoras (com aumento de função)
ou inibidoras (com diminuição de
função).
Existem diversos exemplos de como
se pode modificar, através do
condicionamento, a fisiologia do
animal e do ser humano. Citaremos
apenas alguns, para, a partir deles,
procurar compreender o que poderia
ocorrer no momento do efeito
placebo.
A Modificação da Fisiologia
Através do Condicionamento
Pavlov e seus seguidores logo
perceberam que o condicionamento
era muito poderoso no sentido de
alterar funções orgânicas. Diversos
experimentos comprovaram isso, e
abriram um enorme campo de
estudos, com muitas conseqüências
para a aplicação clínica em seres
humanos.
Por exemplo, coloca-se uma sonda
retal em um cão e faz-se um enema
salino (injeção de água salgada). A
presença daquele soluto dentro do
intestino provoca, ao fim de algum
tempo, aumento da diurese (excreção
renal de água) para restabelecer o
equilíbrio hidroeletrolítico. Depois de
algumas sessões de administração de
enema salino através da sonda retal,
a mera introdução da sonda retal,
sem enema, também provoca
aumento da diurese.
Da mesma maneira, se antes de
aplicar injeção de insulina em um cão,
faz-se com que ele ouça sempre um
assobio, a hipoglicemia que surge em
decorrência da ação da insulina
passará a surgir, depois de algum
tempo, pela simples audição do
assobio. O metabolismo do animal
alterou-se, passando a responder com
hipoglicemia a um estímulo sonoro
que nada tem a ver, em condições
normais, com o metabolismo dos
glicídios.
O Sistema Nervoso Central e os
Reflexos Conditionados
Finalmente, através do que ficou
conhecido como a "Teoria Pavloviana
da Atividade Nervosa Superior",
Pavlov e seus discípulos foram os
primeiros pesquisadores a integrar os
estudos da psicologia do aprendizado
com a análise experimental da função
cerebral. Eles mostraram que os
reflexos condicionados se originam
no córtex cerebral, o qual, segundo as
palavras de Pavlov, "é o distribuidor
primário e organizador de toda as
atividades do organismo". Ao longo
de vários anos, ele e seus discípulos
chegaram às leis básicas que
governam a operação do córtex
cerebral no aprendizado
condicionado.
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